De uns dias para cá estou sentindo o tímpano do meu ouvido direito pulsar. É como se algo o cutucasse de dentro para fora. Deve ser minha consciência querendo sair.

Domingo de Páscoa

"Cúelhinho, se eu fosse como tú, tirava a mão do bolso e botava a mão no cúelhinho..."

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Eu sou do tipo de pessoa estranha que ri quando se assusta. Depois eu pasmo, fico passada, faço beicinho de choro. Mas na hora eu rio e resmungo. Fina flor que sou desando a repetir: caralho, caralho, caraleo! Caralho voador de asa alado, caralho! Logo se vê que eu fiz Socila.

O Marcelo, ao contrário, reage sempre com uma contida elegância. Faz sempre um olhar blasé de que nada está acontecendo e de que não há motivo para pânico. Quem me vê a seu lado puxando os cabelos e revirando os olhos não deixa de se perguntar o que ele esta fazendo com uma desclassificada como eu afinal das contas.

Foi assim mesmo a cena na quinta-feira no meio do tiroteio da Niemayer. Nós dois engarrafados de madrugada quase no Vidigal enquanto o bandidão horrível tentava invadir o morro do bandidão-não-tão-horrível-assim. Quando tivemos que desviar do caminho por causa do túnel fechado começamos:

Eu- Ai caralho!

Ele - Calma. Deve ser obra no túnel.

Quando passamos pela praia que estava estranhamente cheia de gente às 2:30 da matina:

Eu- Caralho! Caralho!

Ele- Deve ser pagode.

E foi assim que fomos parar numa fila indiana de carros indo direto em direção ao fogo cruzado. A ficha só foi realmente cair quando os carros começaram a se jogar na outra pista. Um amigo dois carros à frente ligou pelo celular - vira que é tiro! Vira que é tiro!Lá na frente uns policiais abanavam os braços pros engarrafados - volta porque cês vão morrer! Volta!

Cheguei a ver uns flashes que, obviamente, não eram fotografias. Saímos correndo na direção contrária enquanto o caveirão blindado no Bope subia rumo às azeitonas traçantes.

Bate na madeira bangalô três vezes. Ainda não sei se era muito azar estar lá naquela hora ou se nasci com a bunda pra lua por ter escapado. Mas como diz Zé- o magnífico "numa situação de emergência onde todos estão em pânico, aquele único que consegue manter a calma e o controle é o único que não entendeu a gravidade da situação".